sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Desce. E sobe

Pastor Júlio Jandt


IMG_2179-2Um homem morreu após cair do quinto andar de um prédio em São Paulo. Ele e um colega (que ficou pendurado em uma janela) estavam pichando as paredes do edifício. Eles tentavam subir até o 7º andar.

Sabe por quê? Porque era onde ainda não havia pichação. Não tinha graça pichar o 1º, o 2º e nem mesmo o 6º andar. Ali outros já haviam chegado. Era preciso colocar o nome num lugar ainda mais alto.

Lembrei na hora da torre de Babel, com a diferença de que, nela, a ambição era ainda maior que o 7º andar sem pichação: era o próprio céu – “Agora vamos construir uma cidade que tenha uma torre que chegue até o céu. Assim ficaremos famosos e não seremos espalhados pelo mundo inteiro” (Gênesis 11.4).

Observe que esse projeto humano tinha dois motivos: “ficar famoso” (o velho problema do orgulho ambicioso) e “não ser espalhado pela terra” (uma afronta e um desafio a Deus depois do dilúvio – “E agora, Deus, vai conseguir nos espalhar? Vai mandar chuva? Tudo bem, a gente sobe na nossa torre!”).

Deu no que deu. Deus confundiu a língua deles e, desunidos e dispersos, interromperam a construção da torre. Sempre que o homem sempre tentou subir, Deus o fez descer.

Ninguém chega ao céu subindo uma escada de boas ações, ganhando créditos com Deus por ajudar outros ou mostrando que é capaz – com Deus não existe meritocracia ou competência. A ambição humana e a falta de uma linguagem sábia sempre interromperão os planos.

Em uma era que se sobe à lua e se alcança patamares nunca antes perscrutados, a tentação permanece: queremos subir, chegar ao céu e – por que não? – ser deuses. Aliás, esta foi a primeira ambição humana, ofertada pelo diabo-em-pele-de-cobra para Adão e Eva (Gênesis 3.4-5). Uma ambição que reside em nós e se manifesta diariamente, quando nos consideramos juízes sobre outros e nos julgamos merecedores do que Deus tem a dar.

Então vamos subindo, dia a dia, as escadas da arrogância e da autossuficiência, talvez para limites nunca antes galgados.

E tudo vai bem até o dia em que caímos ou quando as nossas construções humanas mostram-se vulneráveis, insensatas e improdutivas.

Aí Deus mostra o jeito certo de chegar lá em cima onde Ele está. E a solução divina vai contra qualquer lógica humana de merecimento e execução humana.

Porque o caminho não é o homem subir. O caminho é Deus descer.

Ele mostrou isso exatamente no Natal: quando o próprio Deus assume a carne humana, torna-se um de nós e vem para construir aquilo que o homem, com toda a sua tecnologia e capacidade, não era, não é e nunca será capaz de construir.

É o próprio Jesus, Deus no meio de nós, que chega ao limite aonde ninguém nunca chegou nem chegará: ao morrer e ressuscitar, Ele colocou seu nome como o único que pode oferecer e conceder salvação (Atos 4.12).

Esta é uma boa e oportuna lembrança quando nossos projetos teimarem em elevar nossos nomes na direção de Deus. A boa e oportuna lembrança de que a solução para a humanidade não é subir por conta própria, mas aceitar que Deus desça.

Aliás, Ele desceu justamente para isso: para nos levar com Ele lá pra cima.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Convite

Capturar

Saber perder... e saber ganhar

Desde crianças fomos ensinados a prezar o “espírito esportivo”.

“É preciso aprender a perder”, ouvimos.

Não que devamos abdicar de lutar pela vitória e aprender a sempre perder. Não. A derrota tem um gosto amargo e ninguém deliberadamente a busca. Perder é e sempre será ruim.

Mas é preciso aprender a perder. Ao perder, é preciso aprender a não agredir o adversário, o próprio companheiro, o juiz ou o torcedor. Mais do que isso, é preciso aprender com os próprios erros, falhas, incompetências e desatenções. É preciso aprender com tudo isso e progredir, melhorar, crescer. Na última Copa, por exemplo, aprendemos (espero!) que empolgação e hino nacional cantado com lágrimas não ganham jogo – é preciso treinar mais.

Na vida, é preciso aprender com as derrotas. E elas vêm – pode ter certeza. A vida, e principalmente a vida cristã, não é feita apenas de alegrias e títulos. A derrota também faz parte. Dor, enfermidade, problemas, separações, privações, morte... enfim, há reveses. De todos os tipos. Aliás, Jesus não disse que deveríamos carregar a coroa, mas a cruz.

Não, não me esqueci do que disse o apóstolo Paulo ao chamar os cristãos de “vencedores” (Romanos 8.37). Em Jesus, somos vencedores sobre pecado, morte e diabo. Somos triunfantes, sim. Mas não somos triunfalistas: a vitória não é uma fórmula matemática que nos impede de sofrer, nem uma blindagem contra qualquer prejuízo nesta vida. Aliás, o próprio apóstolo Paulo, ao falar dos “vencedores”, dá exemplos de derrotas que a vida pode lhes impor: tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo e espada (Romanos 8.35). E mais: que, por causa da fé em Jesus, “enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro” (v. 36). Ele conclui que nem mesmo as derrotas da vida devem nos tirar a vitória que Jesus nos dá – o perdão, a salvação e a vida eterna, vitórias muito maiores que as alegrias e vitórias passageiras da vida.

O que fazer diante das derrotas da vida? Bom, a primeira coisa a fazer é lembrar que elas são temporárias. Se estamos em Jesus, a vitória eterna é nossa. Segundo, podemos sempre de novo reconhecer nossa pequenez e dependência de Jesus. Não somos invencíveis por nossas próprias forças. Terceiro, podemos, então, nos arrepender dos nossos erros e suplicar pelo perdão que Jesus obteve ao derramar seu sangue por nós. E, a partir disso, podemos aprender com os infortúnios: reorganizar prioridades, valorizar o que deixamos de lado, ficar mais atento, etc. Parafraseando o mesmo apóstolo, as derrotas e tribulações da vida devem produzir “perseverança”, “um caráter aprovado” e “esperança” (Romanos 5.3-4).

Não é à toa que vemos, muitas vezes, as derrotas funcionarem como “instrumento pedagógico” de Deus. Nas derrotas, nos lembramos de Deus e clamamos por Ele. Quando tudo está bem, nem sempre nos declaramos dependentes de Deus – nas vitórias, podemos ser apunhalados pela arrogância, pela autossuficiência, pelo sentimento de que “estamos podendo”.

Por isso, sugiro que também aprendamos a ganhar.

Nas vitórias do esporte, devemos aprender que a comemoração deve estar na garganta, no peito e na frente daqueles que torcem por nós – não em frente ao banco de reservas do perdedor.

Assim, nas vitórias da vida, a comemoração deve estar nos nossos lábios, no nosso coração e junto Àquele que torce por nós – Aquele que nos presenteou com vitórias e alegrias.

Porque “espírito cristão” envolve saber perder... e saber ganhar.

P. Julio Jandt