sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Saber perder... e saber ganhar

Desde crianças fomos ensinados a prezar o “espírito esportivo”.

“É preciso aprender a perder”, ouvimos.

Não que devamos abdicar de lutar pela vitória e aprender a sempre perder. Não. A derrota tem um gosto amargo e ninguém deliberadamente a busca. Perder é e sempre será ruim.

Mas é preciso aprender a perder. Ao perder, é preciso aprender a não agredir o adversário, o próprio companheiro, o juiz ou o torcedor. Mais do que isso, é preciso aprender com os próprios erros, falhas, incompetências e desatenções. É preciso aprender com tudo isso e progredir, melhorar, crescer. Na última Copa, por exemplo, aprendemos (espero!) que empolgação e hino nacional cantado com lágrimas não ganham jogo – é preciso treinar mais.

Na vida, é preciso aprender com as derrotas. E elas vêm – pode ter certeza. A vida, e principalmente a vida cristã, não é feita apenas de alegrias e títulos. A derrota também faz parte. Dor, enfermidade, problemas, separações, privações, morte... enfim, há reveses. De todos os tipos. Aliás, Jesus não disse que deveríamos carregar a coroa, mas a cruz.

Não, não me esqueci do que disse o apóstolo Paulo ao chamar os cristãos de “vencedores” (Romanos 8.37). Em Jesus, somos vencedores sobre pecado, morte e diabo. Somos triunfantes, sim. Mas não somos triunfalistas: a vitória não é uma fórmula matemática que nos impede de sofrer, nem uma blindagem contra qualquer prejuízo nesta vida. Aliás, o próprio apóstolo Paulo, ao falar dos “vencedores”, dá exemplos de derrotas que a vida pode lhes impor: tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo e espada (Romanos 8.35). E mais: que, por causa da fé em Jesus, “enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro” (v. 36). Ele conclui que nem mesmo as derrotas da vida devem nos tirar a vitória que Jesus nos dá – o perdão, a salvação e a vida eterna, vitórias muito maiores que as alegrias e vitórias passageiras da vida.

O que fazer diante das derrotas da vida? Bom, a primeira coisa a fazer é lembrar que elas são temporárias. Se estamos em Jesus, a vitória eterna é nossa. Segundo, podemos sempre de novo reconhecer nossa pequenez e dependência de Jesus. Não somos invencíveis por nossas próprias forças. Terceiro, podemos, então, nos arrepender dos nossos erros e suplicar pelo perdão que Jesus obteve ao derramar seu sangue por nós. E, a partir disso, podemos aprender com os infortúnios: reorganizar prioridades, valorizar o que deixamos de lado, ficar mais atento, etc. Parafraseando o mesmo apóstolo, as derrotas e tribulações da vida devem produzir “perseverança”, “um caráter aprovado” e “esperança” (Romanos 5.3-4).

Não é à toa que vemos, muitas vezes, as derrotas funcionarem como “instrumento pedagógico” de Deus. Nas derrotas, nos lembramos de Deus e clamamos por Ele. Quando tudo está bem, nem sempre nos declaramos dependentes de Deus – nas vitórias, podemos ser apunhalados pela arrogância, pela autossuficiência, pelo sentimento de que “estamos podendo”.

Por isso, sugiro que também aprendamos a ganhar.

Nas vitórias do esporte, devemos aprender que a comemoração deve estar na garganta, no peito e na frente daqueles que torcem por nós – não em frente ao banco de reservas do perdedor.

Assim, nas vitórias da vida, a comemoração deve estar nos nossos lábios, no nosso coração e junto Àquele que torce por nós – Aquele que nos presenteou com vitórias e alegrias.

Porque “espírito cristão” envolve saber perder... e saber ganhar.

P. Julio Jandt

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