sábado, 6 de junho de 2015

Propina [não] é a regra do jogo

subornoNo mês passado, o lobista Julio Gerin Camargo confirmou em depoimento à Justiça Federal que pagou propina a diretores da Petrobras. Segundo ele, essa era a “regra do jogo”.

Parece que essa também era a regra na Fifa.

Propina, aliás, é regra antiga. Insinuada, infiltrada e impregnada na sociedade humana desde a queda em pecado. Regra que, há milênios, anda de mãos dadas com o suborno, com filiação idêntica: o próprio diabo.

Já no Antigo Testamento lemos, por exemplo, que os filhos do grande profeta e líder Samuel “se tornaram gananciosos, aceitavam suborno e pervertiam a justiça” (1 Samuel 8.3). O profeta Miqueias, oitavo século antes de Jesus, também denunciava: “Ouçam, vocês, governantes... Vocês arrancam a pele do meu povo e a carne dos seus ossos. Seus líderes julgam sob suborno, seus sacerdotes ensinam visando lucro, e seus profetas adivinham em troca de prata” (Miqueias 3.1-2,11). E o profeta Ezequiel, lá pelo ano 600 a.C., também falou de propina, suborno e extorsão (Ezequiel 22.12).

Cenário conhecido? Pior: parece que cada vez mais a propina vem fazendo parte do dia a dia. Isso acontece porque a propina é uma tentação muito mais próxima do que podemos imaginar. Ela não está apenas nos noticiários, nos contratos ou na proposta de terceiros: ela está dentro do coração humano, no desejo pecaminoso de se dar bem, de obter vantagem, de ter mais bens. Não é à toa, portanto, que a propina invade governos, empresas, igrejas e até mesmo a relação com Deus.

Sabe quando você ajuda alguém com a intenção de ser ajudado depois? Ou quando “lembra” alguém acerca de uma benfeitoria que você fez? Sabe aquela prática de oferecer cura em troca de dinheiro? Sabe aquela manipulação da fé de pessoas simples que oferece prosperidade em troca de boletos pagos? Sabe aquela oração pedindo perdão sem a sinceridade de tentar fazer melhor da próxima vez, como se o formalismo ritual fosse dobrar a Deus? Sabe aquele grande anseio por bênção nos projetos pessoais, mesmo que isso traga prejuízo para o outro? Sabe aquele sentimento (que teima em vir à mente) de que você é merecedor de que Deus o abençoe porque você é bom pai, esposo fiel e trabalhador responsável?

Tudo propina.

Você pensa em se dar bem por ter feito algo. Seja com Deus ou com alguma pessoa.

Jesus falou sobre um cidadão que tentava dobrar Deus à base de propina: “Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros... Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho” (Lucas 18.11-12). É como se o camarada perguntasse: “Deus, estás ciente de tudo o que faço por ti? Estás anotando direitinho?”

Não custa lembrar: com Deus, a regra é outra – “o Senhor, o seu Deus, é o Deus dos deuses e o Soberano dos soberanos, o grande Deus, poderoso e temível, que não age com parcialidade nem aceita suborno” (Deuteronômio 10.17).

Ele, que não julga com parcialidade nem aceita suborno, oferece gratuitamente o que a propina (seja ela de que tipo for) não pode comprar: a salvação. Tudo porque Jesus pagou. Não caiu em corrupção e, para pagar a nossa, entregou a própria vida na cruz.

Confessar e abandonar a propina, aceitar o perdão gratuito e viver contente: essa é a regra do jogo de Deus.

P. Júlio Jandt

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