domingo, 14 de outubro de 2012

“‘Deus é Brasileiro’!?”

417264-95-1280O profeta Amós viveu um tempo de grandes transformações sociais e históricas. Ele foi chamado por Deus para ser profeta da verdade e da justiça. Foi escolhido, capacitado e enviado por Deus a fim de formar um diagnóstico criterioso da sociedade e dos governantes da nação de Israel e Judá por volta do ano 750 A.C.

Nessa época, o povo de Deus estava politicamente dividido em dois reinos; ao norte Israel, e ao sul, Judá. O período era de relativa tranquilidade e prosperidade econômica em ambos os reinos, especialmente no reino do Norte, Israel, onde o comércio era bem desenvolvido até além das fronteiras do país. Realizavam-se grandes obras públicas e a alta classe vivia em luxo e festas que, na maioria das vezes, eram bancadas à custa da exploração das camadas mais pobres da sociedade.

Ao lermos o profeta Amós, surpreende como alguns elementos fundamentais da sociedade da época do profeta têm paralelos impressionantes com nossa geração no Brasil atual e no mundo como um todo. Esses paralelos vão além da desigualdade social e econômica, passando pela exploração de altos impostos, pela corrupção em diferentes níveis de governo, pela confusão e idolatria religiosa até a economia baseada no consumismo hedonista (Atitude de vida voltada para a busca egoísta de prazeres momentâneos).

Ao perceber as confusões e contradições em que viviam as pessoas e o governo de seu tempo, Amós passa a denunciar as falcatruas, e chama o povo ao arrependimento apontando incoerências e desigualdades intoleráveis do ponto de vista social e divino. O profeta ergue sua voz contra os governantes corruptos, contra a falta de honestidade, contra a falsa religiosidade. Como mensageiro de Deus ele acusa; “Eles rejeitam a minha lei e desobedecem os meus mandamentos... v.2.4; Vendem como escravos pessoas honestas que não podem pagar as suas dívidas... v.2.6; Perseguem e humilham os pobres e fazem injustiças contra as pessoas simples... v.2.7; Para comprar vinho... usam o dinheiro que receberam de multas injustas... v.2.8”.

Ironicamente, em meio a tudo isso, a religiosidade estava em alta. Os sacerdotes andavam bastante ocupados e suas agendas estavam lotadas... Celebravam-se os festivais e procissões, traziam-se ofertas, ofereciam-se os habituais sacrifícios. As sinagogas ‘viviam cheias’... o povo estava lá...

Então o que estava realmente acontecendo?

Amós percebeu o erro e foi à raiz do problema. A prosperidade econômica era entendida como aprovação divina, um sinal de que ‘Deus estava com eles’. Porém no íntimo dos seres humanos estava enraizado um problema religioso muito sério. As pessoas cultuavam a Deus, mas com a finalidade de barganhar alguma vantagem ou recompensa por sua propensa ‘fidelidade’ (v.3.10). O culto não tinha muito a ver com a rotina diária do povo. As pessoas, principalmente os ricos e autoridades, iam ao santuário e trazia o seu sacrifício no Sábado, mas durante a semana subornavam, roubavam e oprimiam. Havia imoralidade sexual por toda a parte e até Pais omissos levavam ou permitiam que seus filhos tivessem relações com prostitutas nos ‘templos pagãos’... (v.2.7).

Em outras palavras, a adoração não estava sendo verdadeira. Eles não entendiam - ou não queriam entender - que, em última análise, a adoração verdadeira deve se mostrar em uma conduta correta, honesta e justa. Que um bom e correto relacionamento com Deus deve gerar um bom e correto relacionamento com o próximo.

O pensador Sigmund Freud em seu livro; ‘O mal estar da cultura’, escrito a mais de 80 anos (1930), apresenta um diagnóstico certeiro da sociedade de seu tempo, ele escreve que; “No lugar dos valores da vida, se preferiu o poder, o sucesso e a riqueza buscados por si mesmo”. Parece que essa realidade já era presente nos tempos de Amós, e tornou-se cada vez mais verdadeira ao longo dos anos...

As denúncias de injustiça no tempo de Amós deveriam soar em nossos ouvidos como alarmes para que a sociedade e a Igreja Cristã acordem. Não é possível que políticos comprovadamente corruptos saiam ilesos de julgamentos como o que está ocorrendo no STF (Supremo Tribunal Federal). É inadmissível que bilhões mensalaode reais sejam desviados para paraísos fiscais enquanto a população, que paga altos impostos, sofra com a falta de saúde e educação de qualidade. É lamentável que falsos profetas, usando a mídia, iludam e explorem a população mais pobre com falsas promessas de cura e prosperidade financeira. É triste observar um mercado baseado no consumismo desenfreado, na estética, na busca pelo prazer (hedonismo), da ansiedade doentia pelo aparecer e o fazer sucesso a qualquer preço sem compromisso com as pessoas em sua volta, e sem responsabilidade com a vida do planeta...

Mas, triste também é prestar atenção no cisco do olho dos políticos e não ver as traves da nossa própria ação, ou até mesmo em nossa omissão diante de tudo isso. Talvez seja por essa a razão porque o profeta não se dirige à classe dominante apenas, mas anuncia o castigo e a ira de Deus a todo o povo por suas ações más e também pela omissão; “Vocês têm ódio daqueles que defendem a justiça e detestam as testemunhas que falam a verdade... v.5.10; Não admira que num tempo mau como este as pessoas que têm juízo fiquem de boca fechada!... v.5.13”. Enquanto nós, os eleitores, aproveitarmos as campanhas políticas para ganhar ‘uma carga de areia’, ‘alguns tijolos’, um ‘fardamento novo’, ‘patrocínios’, seremos omissos e o nosso erro não terá sido menor do que o daqueles envolvidos no em escândalos.

Mas todo mundo faz assim!” é a resposta imediata para aqueles que, como Amós, ousam questionar e provocar a reflexão sobre a honestidade, a corrupção ou a idolatria e a confusão religiosa. Infelizmente, crescemos com a ideia de que precisamos ser ‘espertos’, levar sempre a melhor com ‘jeitinhos’ e achando que ‘Deus é Brasileiro’.

blindfaithO jovem rico achava que ‘Deus era brasileiro’ – que estava do seu lado e aprovava tudo que ele fazia - e precisou ouvir do Messias que, para entrar no reino dos céus, ele precisava abrir mão daquilo que ele considerava importante, e receber o reino de Deus como uma criança (Mc 10.15), seguindo Jesus. O jovem não quis, preferiu seguir a maioria, e voltou para casa rico, mas pobre diante de Deus (Mc 10.22).

Deus continua despejando suas orientações, sua vontade pura e sã. Cabe a nós sermos realmente ‘espertos’ e ajuizados, seguindo as suas palavras e suplicando que ele tenha misericórdia de nós, de nossas famílias, de nosso país, pois ainda é tempo de pensar e agir diferente.

“Voltem para o SENHOR e vocês viverão... v.5.6” – NTLH ∕ “Buscai ao Senhor e vivei...” – ARA – é a mensagem de esperança do profeta Amós ao povo de sua época.

“Buscai ao Senhor e vivei... v.5.6” é um apelo para que o povo de Israel se volte em humildade e arrependimento ao Deus que, em seu amor, o escolheu e o resgatou com mão poderosa (Am. 3.2; cf. Dt.16-8).

No apelo do profeta, a vida, resultante da busca ao Senhor, é a sobrevivência à catástrofe anunciada (v.5.6). No entanto, esta vida, indiscutivelmente, envolve também a Vida Eterna. Deus não apenas dá vida, mas ele mesmo é a própria Vida, a vida que ultrapassa a morte e se estende pela eternidade (Jo 14.6; “Eu sou... a Vida”). Na pessoa de Jesus Cristo, este Deus se manifestou, pela sua ressurreição dos mortos foi conquistada, definitivamente, a vitória sobre a morte.

“Buscai ao Senhor e vivei... v.5.6” significa também conhecer e praticar a pura e santa vontade de Deus por meio de atos de justiça para com o próximo necessitado, na sociedade e no poder público. Esses sim são reflexos de um correto relacionamento com Deus.

Por fim, Amós explica o “Buscai ao Senhor e vivei... v.5.6” no versículo 14; “Procurem fazer o que é certo e não o que é errado, para que vocês vivam. Assim será verdade o que vocês dizem, isto é, que o Senhor, o Deus Todo-Poderoso, está com vocês” (Am 5.14). A nós, o profeta diria; ‘Procurem fazer o que é certo e não o que é errado, para que vocês vivam. Assim será verdade o que vocês dizem, isto é, que ‘Deus é Brasileiro’.

Assim seja. Amém.

P. Élvio Nei Figur – Juiz de Fora, MG em www.sonsdagraca.net 

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