domingo, 16 de setembro de 2012

Confissões de um fora de moda

IMG_9771-465x309“Me sentia um lixo”. A declaração de Elcio Milczwski foi um desabafo sobre o constrangimento que viveu no período em que trabalhou na Ambev de Curitiba. Ele e outros vendedores eram obrigados a ver garotas de programa tirarem a roupa na frente deles, a esfregar óleo bronzeador no corpo delas e a assistir filmes pornográficos em reuniões de “motivação” da equipe de vendas da qual faziam parte. Os contrariados eram alvo de zombaria, e quem atingisse a meta de vendas ganhava um “vale-programa”.

A história de Elcio ganhou repercussão nacional quando o Tribunal Superior de Trabalho manteve a condenação à Ambev, que deverá indenizar Elcio em R$ 50 mil por “assédio moral decorrente de constrangimento”. Ele, que é casado e evangélico, conta que não foi à Justiça por ser evangélico, mas sim pela situação constrangedora que sofreu. Outros colegas, solteiros e não evangélicos, também acionaram a empresa.

A pergunta que se levanta é sobre os “meios” para se chegar aos “fins”. Justificam-se? Ou: para alcançar o objetivo, vale tudo? A que custo?

A mesma pergunta se impõe no âmbito religioso. Pseudoigrejas cada vez mais abandonam e distorcem a verdade bíblica para alcançar os objetivos de sua denominação. Deixaram de ser igrejas para tornarem-se empresas de resultados palpáveis, onde os bons pastores são premiados com “vales-programas” de prostituição nas fileiras das estruturas administrativas, e os maus, rejeitados, submetem-se ao ostracismo ou fundam “sua própria igreja”. Não importa muito o conteúdo – o importante é crescer, lucrar, tornar-se um império.

554400_278757538880465_1423665424_nTenho muita preocupação com o atual cenário e essa ênfase nos números e na “coisificação” da igreja. Relatórios, planejamentos e estratégias ocupam o tempo da Palavra e da oração. O espiritual se tornou numérico. Os números tornaram-se o melhor indicador da saúde da igreja. O culto foi transformado num espetáculo teatral e comercial. E o pior de tudo: a verdade bíblica foi “adaptada” para não “ofender” ou “magoar” alguém, mesmo que o que Deus tenha a dizer seja duro, como quando Jesus pregou na sinagoga de Cafarnaum e a multidão se retirou, queixando-se: “Dura é essa palavra. Quem pode suportá-la?” (João 6.60).

Minha preocupação me leva a algumas confissões.

Confesso que ainda me prendo aos preceitos de Deus, mesmo que isso me faça viver e pregar uma vida inteira para ter pouquíssimos resultados práticos. Confesso que sou pastor e pregador do evangelho e não um executivo de gestão, capaz de mandar nos corações alheios. Confesso que a pregação verdadeira deve ter Cristo no centro do trono e não o ser humano, e que a verdadeira igreja não está “ao gosto do freguês” e sim “ao gosto de Deus”. Confesso que sou feliz por ser pastor de uma igreja que pensa exatamente assim: que a ordem é pregar o evangelho com fidelidade e deixar “Deus ser Deus”.

Por isso, confesso ainda que continuo acreditando na promessa de Jesus de que “as portas do inferno não vão vencer a Sua Igreja” (Mt 16.18). Confesso, sim, como o apóstolo Paulo: “Ao contrário de muitos, não negociamos a palavra de Deus visando lucro; antes, em Cristo falamos diante de Deus com sinceridade, como homens enviados por Deus” (2 Co 2.17). Confesso também que esse meu desabafo está arraigado no amor de Jesus por mim e na salvação que Ele me conquistou na cruz.

Confesso, por fim, que só nesse Jesus, o Salvador do mundo, eu tenho um “vale-eternidade” e que, mesmo fora de moda, eu não me sinto um lixo.

(Pastor Julio Jandt)

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