sábado, 5 de julho de 2014

Holofotite

0987Interessante como as pessoas mudam quando percebem que estão sendo vistas.

Os telões nos estádios, nos jogos da Copa, confirmam. Há quem estivesse sonolento, abatido, irado com o time ou com o juiz, conversando com os amigos e talvez nem aí com o jogo - mas bastava o telão do estádio exibi-lo para aparecer o sorriso e o ar de pessoa mais feliz do mundo.

Obviamente não estou recriminando (“é Copa do Mundo e o mundo inteiro me viu”), mas essa mudança de atitude ilustra uma atitude que precisa ser mudada na vida real. Falo da tendência humana de mudar ao ser visto, uma tendência que não é moda de hoje. Como também não é de hoje fazer coisas para ser notado, um risco farisaico que nos persegue.

É o caso daqueles jogadores, por exemplo, tão altamente preocupados com a imagem, que procuravam o telão a cada jogada executada, nem que fosse para ajeitar o topete. É praticamente uma “holofotite”, a doença do holofote: aparecer, ser visto e notado como alguém “especial”.

No tempo de Jesus, os hipócritas (aqueles que são uma coisa por fora e outra por dentro) davam esmolas e ajudavam os necessitados a fim de serem vistos e ganharem o aplauso, o reconhecimento das pessoas. Eles também gostavam de mostrar que estavam orando: dirigiam-se a locais públicos bem na hora da oração no templo, para que todos quantos por ali passassem pudessem observar a “religiosidade” deles. Isso também acontecia quando jejuavam: mantinham uma aparência triste e miserável, de forma que se alguém visse um deles neste estado poderia pensar: “Que pessoa de espiritualidade marcante! Olhe o que ele está sofrendo por causa da sua devoção a Deus!” (Mateus 6.1-6,16-18).

Jesus ensinou uma lição preciosa: fazer as coisas para Deus não envolve câmeras, shows ou público. Também não envolve ser reconhecido ou aplaudido por homens. Viver para Deus envolve colocar a fé em prática na relação com um Pai que está em secreto e que, em secreto, recompensa.

Isto quer dizer que, sejamos vistos ou não, nossa atitude deve ser a mesma. Com ou sem holofotes, com ou sem público ou câmeras, devemos manter a mesma postura. Se o patrão estiver vendo, serei bom funcionário; se não estiver, continuarei bom funcionário (aliás, repare nesse versículo: “Escravos, obedeçam em tudo a seus senhores terrenos, não somente para agradá-los quando eles estão observando, mas com sinceridade de coração, pelo fato de vocês temerem o Senhor” - Colossenses 3.22). Se a professora estiver presente ou se ausentar na hora da prova, não cairei na tentação de colar. Diante do juiz, no tribunal, manterei íntegra a minha palavra; no dia-a-dia idem. Se alguém observar o que faço, procurarei dar o meu melhor; se não houver ninguém por perto, darei o meu melhor da mesma forma. Porque tudo isto é para o meu Pai. Que está em secreto.

Naturalmente nem sempre conseguirei fazê-lo. E aí vem outra lição a ser aprendida: o que para os homens torna-se um grande fiasco, sem chance de reabilitação, com Deus torna-se uma mudança possível. Por causa do que Jesus fez, ao morrer e ressuscitar por nós, podemos mudar e recomeçar.

Por causa de Jesus - e não dos holofotes.

P. Julio Jandt

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