quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Barganha na política e na religião

1643Duas frases são usadas para descrever a barganha. Uma delas diz: “É dando que se recebe”. A outra: “Toma lá da cá” A primeira faz parte da oração de São Francisco de Assis. Tem um tom mais bonito, religioso e até mesmo generoso. A segunda já revela algo mais explosivo, mas vingativo, desordeiro.

Estas duas expressões foram usadas para descrever a atitude da base aliada no congresso, que afirmou que aprovaria algumas emendas, somente se fosse aprovado a diminuição da expectativa de superávit primário, aparentemente para fazer de conta que as coisas não estão tão mal. Indiretamente eles dizem que somente vão aprovar outras leis de interesses gerais, se esta primeira for aprovada. Ou seja: um “toma lá, da cá”; ou “é dando que se recebe”. Nada de novo quando o assunto é políticagem, com seus meandros e interesses.

Porém, apesar de dolorido, preciso lembrar que no relacionamento com Deus, muitas pessoas e inclusive aqueles que se intitulam religiosos ou mestres, igualmente trabalham neste sentido. Usam a lógica humana para regimentar a relação e inclusive a ação de Deus. Então, baseados nesta filosofia, orientam cerimônias e esquemas para acalmar a divindade, uma oferta aqui, um sacrifício lá, uma promessinha ali, uma doação acolá, como se Deus precisasse dos nossos favores, ou como se fosse um menino dengoso que só ajuda quando ajudado.

Pois leiam o que está escrito em Is (1.11-13): O Senhor diz: “Eu não quero todos esses sacrifícios que vocês me oferecem. Estou farto de bodes e de animais gordos queimados no altar; estou enjoado do sangue de touros novos, não quero mais carneiros nem cabritos. Quando vocês vêm até a minha presença, quem foi que pediu todo esse corre-corre nos pátios do meu Templo? Não adianta nada me trazerem ofertas; (...) pois os pecados de vocês estragam tudo isso. (Is 1.11-13).

Deus não age por meio de barganha, mas por meio da sua graça (Ef 2.8-9). A graça é um diferencial divino. Não é a toa que se diz que errar é humano, mas que perdoar é divino! Deus age não motivado pelo poder de barganha, não é motivado pelo que o homem fez ou deixou de fazer. Ele é motivado pelo seu amor incondicional. E o amor é exatamente o modo pelo qual ele deseja que nos relacionemos. Nossa relação com Deus deve ser por meio da fé ativa no amor. (Gl 5.6).

Mas como podemos amar a Deus? O único jeito de amar verdadeira e concretamente a Deus é amando as pessoas em suas necessidades. (1 Jo 4.20) Neste momento não deve prevalecer um “toma lá da cá”, nem um “dando que se recebe”, mas muito antes, a frase atribuída a Jesus ao dizer: “melhor é dar do que receber!” (At 10.35).

Na perspectiva com Deus, funcionaria uma lógica inversa as frases iniciais. Isto é, antes de dizer, “é dando que se recebe”, valeria bem mais dizer: “é recebendo, que se aprende a dar” – pois efetivamente “nós amamos porque Deus nos amou primeiro!” (1 Jo 4.19).

Pastor Ismar L. Pinz

Comunidade Luterana Cristo Redentor

Pelotas, RS

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