quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A FÉ COLETIVA DO 'UNS AOS OUTROS'

uns-aos-outros“Eu não preciso de igreja; posso ler a Bíblia e orar em casa”.

Este argumento tem o primeiro equívoco, como dito no artigo da semana passada, de enxergar a fé cristã como uma fé individualista. Pelo contrário, ser cristão é ser igreja. E ser igreja é algo coletivo (rebanho, povo, família, corpo, edifício) – sempre a ideia de reunião, congregação, comunidade.

Mas há um segundo equívoco no argumento inicial.

O segundo problema é que, quando pensamos que não precisamos de uma comunhão de pessoas, estamos dando asas ao nosso orgulho, egoísmo e sentimento de independência – tipo assim, “não preciso de ninguém”. Veja esse trecho do livro “O monge e o executivo”, de James Hunter: “Precisamos uns dos outros. Os arrogantes e orgulhosos fingem que não precisam. O individualismo que predomina em nosso país é mentiroso e cria a ilusão de que não somos e não devemos ser dependentes de outras pessoas. Que piada! Um par de mãos me tirou do útero de minha mãe ao nascer, outro trocou minhas fraldas, me alimentou, me nutriu, outro ainda me ensinou a ler e escrever. Agora, outros pares de mãos cultivam minha comida, entregam minha correspondência, coletam meu lixo, fornecem-me eletricidade, protegem minha cidade, defendem minha nação. Um par de mãos cuidará de mim e me confortará quando eu ficar doente e velho, e, por fim, outro par de mãos me levará de volta à terra quando eu morrer” (p. 86-87).

Isso fica mais claro ao constatarmos uma expressão que aparece mais de 100 vezes no Novo Testamento: “uns aos outros” – amar, acolher, perdoar, cooperar, suportar-se, sujeitar-se, orar, instruir, edificar, levar as cargas, consolar, encorajar, servir – tudo isso “uns aos outros”. Não há como fazer nada disso sozinho. É preciso fazer isso a alguém, viver com alguém, relacionar-se. Tais conselhos espalhados ao longo do Novo Testamento são dirigidos a cristãos de igrejas, que se relacionam, se reúnem, vivem em comunidade. A vida cristã não foi projetada para ser vivida dentro de uma bolha, como um pseudoevangelho de clausura.

Aliás, está é uma questão, no mínimo, interessante: lutamos por ideais de sociedade, queremos que nossos filhos sejam sociáveis e interajam com os outros, precisamos de amigos, clientes, empregados, prestadores de serviços, somos interdependentes em tudo... mas não usamos o mesmo critério quando se trata de exercer a fé e o amor em Cristo. Será que muitos esperam um céu com várias quitinetes individuais para aqueles que não querem viver coletivamente?

A verdade é que precisamos uns dos outros. E a igreja, como uma comunidade de gente que tem o mesmo sangue – o sangue de Cristo correndo nas veias –, nos lembra da comunidade maior – o conjunto de todos que tiveram seus corações lavados naquele precioso sangue.

Podemos, como comunidade, um hospital de pecadores, auxiliarmo-nos mutuamente nessa caminhada rumo à eternidade, onde não seremos mais vários grupos, mas “um só rebanho e um só pastor” (João 10.16).

Por isso, concordo com o médico suíço Paul Tournier quando disse: “Existem duas coisas que não podemos fazer sozinhos: uma é casar e a outra é ser cristão”.

P Julio Jandt - Igreja Evangélica Reformada de Itararé

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