sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

ESBANJANDO [A] ÁGUA

aguaNada como não ter água na torneira e tomar alguns banhos de caneca para lembrar-se – na marra – da importância que tem a água. Claro, nada ainda comparado àquelas pessoas no sertão nordestino, como Dona Delmindi, de Santa Cruz da Venerada, no Pernambuco, que vive sem água na torneira todos os dias, busca da cisterna e tem de se virar com 22 litros de água por dia – só para ter uma ideia, um banho rápido de chuveiro consome uns 50 litros.

Mas o que mais incomoda, em meio à falta de chuva e ao racionamento de água, é a falta de cidadania, o desrespeito pelo bem coletivo. Os meios de comunicação são exaustivos, apontando para a necessidade de evitar o desperdício. Basta uma volta e vê-se gente lavando calçada com água potável, enquanto outros, a poucos metros, precisam chamar caminhão-pipa. E há quem, inquirido, ainda se ofende!

É a velha e pecaminosa ética individualista do “está bom para mim, eu tenho, o resto que se dane”. Essa é a lógica por trás do trabalho escravo, do capitalismo, da corrupção, de relacionamentos fracassados. Nada irá funcionar com amor dessa maneira. Um círculo vicioso que deixa as pessoas cada vez mais enclausuradas por um muro sem conseguir enxergar quem está à volta ou, pelo menos, ao lado.

Este fenômeno egocêntrico também precisa ser desmoronado quando o assunto é o evangelho. É o que nos lembra o período litúrgico da “Epifania” – que significa revelação, manifestação –, onde a ênfase está no Jesus revelado como Salvador para todos os povos, sem acepção de pessoas. E aí se começa a pensar em termos de “nós”, não de “eu”.

Nada mais justo, nessas horas, do que lembrar daquela mulher que nem o nome sabemos, mas que se preocupou em não ficar com água apenas para si. A história está no evangelho de João, capítulo 4. A mulher, que era de Samaria, região de conflito com os judeus, fora ao poço tirar água. Ali foi surpreendida por um pedido de Jesus: “Dê-me um pouco de água”. Ela estranhou o fato de um judeu falar com uma samaritana. Mesmo assim, um interessante diálogo foi iniciado, até que Jesus declarou: “Quem beber desta água terá sede outra vez, mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna”.

Daí o pedido da samaritana: “Senhor, dê-me dessa água!” Ela sabia que Deus enviaria o Messias, o Cristo, o Salvador. E Jesus abre o jogo com ela: “Eu sou o Messias! Eu, que estou falando com você”.

Essa conversa poderia ter relaxado o coração daquela mulher a exemplo do “está bom para mim, eu conheço o Messias, o resto que se dane”. Mas não. Ela não guardou essa água apenas para si. Levou-a adiante, ao seu povoado, ao seu povo, seus conhecidos. E o evangelista João confirma: “Muitos samaritanos daquela cidade creram em Jesus por causa do testemunho dado pela mulher”.

Na sequidão de nossos dias em que muitos morrem com corações áridos, sem conhecer Jesus, chama a atenção que muitos não estão nem aí e preferem esconder Jesus egoisticamente.

Não caiamos nessa falta de cidadania.

Até porque Jesus, infinitamente mais importante que a água da torneira, também diz respeito ao bem coletivo – só que é para ser esbanjado.

P. Julio Jandt - Igreja Evangélica Reformada de Itararé

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