sábado, 26 de abril de 2014

SÓ VEJO ACREDITANDO

SÃO TOMÉ Há coisas que, de tão bárbaras e bestiais, tornam-se difíceis de acreditar. Como o caso do menino Bernardo Boldrini, de 11 anos, de Três Passos, RS, brutalmente assassinado. Os suspeitos: uma assistente social e, pasme, o pai e a madrasta do menino.

E há outras notícias que, de tão incrivelmente boas, também duvidamos.

“O governo decidiu diminuir a carga tributária pela metade” e “Foi descoberto um remédio que impede que se tenha qualquer tipo de câncer” ‒ dá para acreditar?

Por essas e outras dá para imaginar o que se passou no coração de Tomé após a ressurreição do Salvador Jesus. Tomé, com seu famoso “só acredito vendo”, agiu como qualquer um de nós agiria. E não esteve sozinho nisso. Repare nesse relato do evangelista Marcos: “Mais tarde Jesus apareceu aos Onze enquanto eles comiam; censurou-lhes a incredulidade e a dureza de coração, porque não acreditaram nos que o tinham visto depois de ressurreto” (Marcos 16.14). Sua dúvida não era maior do que a dos outros apóstolos. E, por isso, ele também queria ter o mesmo direito dos outros: ver.

Não, eu não estou defendendo Tomé. Ele deveria ter acreditado. E Jesus também o censurou por não acreditar. Mas a verdade é que todos eles demonstraram alguma falta de fé. E só creram quando viram.

Ou seja, devemos tirar o dedo apontado para Tomé e o apontarmos para nós mesmos. Como nós reagiríamos diante de uma notícia tão extravagante, de alguém que estava morto e voltou a viver? Sim, é verdade que Jesus havia predito tudo isso ‒ e, além do mais, incredulidade não é digna de louvor. Mas também não dá para pensar que nós somos tão diferentes assim. No fundo, todos nós queremos ver para crer. Mudam apenas os sinais.

É muito fácil ter fé quando tudo está bem, quando não existem problemas, quando todas as coisas estão no lugar certo, de preferência com bastante dinheiro, boa saúde e uma família “perfeita”. Mas e quando as coisas vão mal? É aí que a dúvida faz conosco o que fez com Tomé: “Se Deus não mudar para melhor a minha situação, não acreditarei nele”. Ou: “A menos que Deus me dê o que quero, não crerei nele”.

A exemplo de Tomé, temos as nossas fraquezas. Mas o princípio de Jesus permanece: “Felizes os que não viram e creram” (João 20.19).

Ver para crer é bem humano. Mas crer para ver é divino.

E, se é divino, só Deus pode fazer. Palavra e Santa Ceia são os meios que Ele usa. E a fé que Ele quer dar e fortalecer é sincera, autêntica, humilde. Fé como a daquela criança doente que estava de quarentena no sótão de sua casa.

Seu avô sempre a visitava antes de ir trabalhar. Numa destas visitas, a criança apontou para o canto do quarto onde estava escrito com os seus brinquedinhos: “Vô, quero uma caixa de pintura”. O avô leu atenciosamente e saiu para trabalhar. Ao regressar à noite, foi ao quarto. Ao entrar, viu algo estupefato. Como antes, a neta formou uma frase que dizia: “Obrigada pela caixa”. Ela não viu a caixa, não viu o avô cumprindo o seu desejo, mas creu ingênua e puramente. Creu e seu avô, no outro dia, deixou no seu quarto a caixa de pintura desejada.

Essa criança, Tomé, eu e você somos iguais: no que depender de nós, queremos ver. No que depende de Deus, Ele nos faz crer.

Por isso, só vejo acreditando.

P. Julio Jandt - Igreja Evangélica Reformada de Itararé

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