segunda-feira, 28 de outubro de 2013

From: martinho_lutero@novajerusalem.com – To: todos_os_cristaos@mail.com

Uma das atividades mais exercidas por Martinho Lutero foi escrever correspondências. Por meio delas, Lutero procurava esclarecer as diversas dúvidas levantadas por cristãos de diversas partes da Europa. Abaixo um pequeno exercício que simula uma correspondência eletrônica, e faz referência ao pensamento do Reformador Martinho Lutero.

Por: Elvio Nei Figur

email_logoFrom: martinho_lutero@novajerusalem.com

To: todos_os_cristaos@mail.com

Graça e paz da Parte de Deus e de Jesus Cristo seu Filho e do Espírito Santo a todos vocês, meus amigos em todo o Brasil. Em mais alguns dias vocês irão lembrar de um momento muito importante para a vida e salvação de todos vocês. Por isso achei que seria importante enviar, por este meio moderno e eficiente, esta simples e humilde correspondência onde gostaria de relatar e esclarecer alguns pontos importantes sobre minha vida enquanto estive aí na terra, e sobre o movimento da Reforma da Igreja Cristã.

Em primeiro lugar não me vanglorio por ser considerado o ‘Iniciador’ desse movimento, nem gostaria que vocês me considerassem o ‘mais importante’, ‘santo’ ou qualquer outra coisa parecida por esse motivo. Não estou acima nem ao lado de Cristo, mas muito abaixo dele. O que fiz foi apenas zelar pela única verdade que salva: a verdadeira fé em Cristo Jesus, nosso SENHOR. Fui apenas um servo a serviço de Deus. Também sempre dou graças a Deus por ele ter sido meu protetor e a quem sempre recorri como meu único Deus e Pai.

Minha família sempre foi uma família humilde, mas muito trabalhadora. Me criaram com muito rigor e me instruíram no conhecimento e temor do Senhor. ‘Eles sempre quiseram meu bem estar; suas intenções a meu respeito foram sempre boas; vinham do fundo de seus corações’. Cursei boas escolas, apesar de a disciplina nelas ser muito rígida e agressiva, como daquela na qual fui espancado, me lembro muito bem, quinze vezes numa mesma manhã... Não gosto nem de lembrar...

Mas isso me fez recordar a disciplina e a exigência feita pela Igreja Romana, a qual eu e meus pais freqüentávamos por ser a única existente. Os Padres e o Papa ensinavam que precisávamos nos bater muito e sofrer castigos por causa de nossos pecados para que Deus nos perdoasse. Sempre achei isso um absurdo e um abuso.

‘Terrível. Implacável. Assim eu via o Senhor. Ele nos punia em vida e nos enviava ao purgatório após a morte ou nos enviava para as chamas do inferno antes do descanso eterno. Mas estava errado. Quem vê um Deus enfurecido... não o vê com clareza... mas o vê através de um véu... como se uma tempestade escura escondesse a Sua face...’.

Meu pai sempre quis que eu estudasse direito e fosse um grande homem público. Foi o que fiz, estudei artes e me tornei mestre na área e comecei a dar aulas de Filosofia. Podia, assim, iniciar meus estudos em Direito. Nessa época, quando tinha vinte anos de idade, vi, pela primeira vez, uma Bíblia, só que estava em Latim e poucos a podiam ler.

Em todos estes anos de estudo, uma coisa me inquietava sempre: O que devo fazer para que eu seja salvo?

Eu não conseguia encontrar paz para minha alma. Constantemente ficava com medo quando me lembrava da ira de Deus e dos exemplos de castigo divino. Esses temores se tornaram mais fortes quando, de tão doente, caí por cima do suporte onde colocava os livros para lecionar em sala de aula. Depois perdi um colega de estudos, vítima de acidente. O Medo da morte me assombrava, pois nunca sabia se tinha feito o suficiente e se estava preparado para ser salvo. E em 2 de julho de 1505, quando eu voltava da casa de meus pais, uma tremenda tempestade sobreveio e um raio caiu numa árvore bem perto de onde eu estava. Pensei que morreria naquele dia, por isso fiz uma promessa para Santa Ana de que, ‘se eu saísse com vida dali, eu ingressaria num convento dos monges agostinianos’ na cidade de Erfurt.

Quinze dias depois cumpri minha promessa. Eu esperava sinceramente encontrar ali a resposta pra a minha questão sobre o que devo fazer para ser salvo? E esperava também ali, finalmente encontrar ‘um Deus misericordioso’, pois eu estava ‘enfeitiçado’ pela idéia de que fazendo boas obras e me castigando eu ganharia o perdão de Deus. Por isso, dia e noite eu me afligia com jejuns, orações e vigílias. Esperava que assim conquistaria o céu ‘à força’. Bem mais tarde percebi que estava errado. ‘Se alguma vez um monge ganhou o céu através da vida monástica, então eu também entraria nele...’.

Depois de muito estudar e buscar na Escritura a resposta para as minhas angústias, finalmente encontrei a verdade e o consolo, que tanto procurara. Quando lia o Novo Testamento, me deparei com um trecho da carta do apóstolo Paulo aos Romanos (3.28) onde diz: ‘o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei’, ou seja, a pessoas é aceita por Deus pela fé, e não pelo fato de fazer o que a lei manda.

A partir desse dia mergulhei com tudo na Bíblia, e pude perceber que o que estava sendo ensinado e praticado pela Igreja Romana não estava de acordo com o que a Palavra de Deus diz. E o irônico é que, justamente os Romanos para quem Paulo escreveu esta carta, não estavam levando a sério o que Deus disse a eles por meio do Apóstolo Paulo.

Percebi que a minha pergunta sobre o que fazer para ser salvo estava sendo respondida aos poucos. Percebi também que na época de Jesus Cristo o povo também fazia a mesma pergunta e acredito que entre vocês aí no Brasil, e em todo o mundo, muitos fazem essa mesma pergunta.

Alguns acham que precisam fazer penitências, ou fazer e pagar promessas como eu fazia no tempo em que era frade virtuoso. Eu estava tão empregado em preces, jejuns, vigílias, frio, auto-flagelação e trabalho que, se tivesse continuado por muito tempo, provavelmente morreria.

Outras pessoas achavam e ainda acham que, para serem salvas, precisam cumprir toda a lei. Mas não sabem que isso é impossível ao ser humano, pois o apóstolo Paulo escreve com muita clareza em Gálatas (5.4): ‘Os que querem que Deus os aceite porque obedecem à Lei estão separados de Cristo e não tem a graça de Deus’.

Outros ainda, acham que devem pertencer a uma determinada Igreja para serem salvos e existem outros que pensam que não podem vestir algum tipo de roupa, ou que devem deixar de comer algum tipo de alimento para se salvarem. Mas tudo isso de nada contribui para a salvação.

Enquanto eu me aprofundava nos ensinos da Bíblia, percebi que, na verdade a pergunta não deveria ser: O que devo fazer para ser salvo? Mas deveria ser: QUEM é a salvação? Ou: QUEM poderá me salvar? Pois a Bíblia é clara neste ponto onde afirma que, a salvação acontece somente pela fé em JESUS CRISTO.

Aos poucos pude compreender o que meu grande amigo e conselheiro João Staupitz me dizia: ‘Habitue-se ao fato de que Cristo é o Salvador verdadeiro e você, pecador real. Deus não brincou ao entregar seu Filho por nós’. Ou seja, meu amigo já me dizia a grande verdade do Evangelho de que o ser humano, como eu e como vocês, é pecador e precisa da salvação que vem de Cristo, pois, como diz Paulo (Gl 2.21); “... se é por meio da lei que as pessoas são aceitas por Deus, então a morte de Cristo não adiantou nada!”, e nós ainda estaríamos perdidos para sempre.

Encontrei muitas outras passagens que me ajudaram a confirmar essa minha constatação: Rm 1.17; ‘O justo viverá por fé’. Rm 4.28; ‘Assim vemos que a pessoa é aceita por Deus pela fé e não por fazer o que a Lei manda’. O mesmo apóstolo Paulo citando Davi: Rm.4.6b-8 (Sl.32) diz: ‘...bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras: Bem aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado’...

Como assim? Eu havia aprendido que Cristo era um juiz rigoroso e só apreciava as boas obras?

Graças a Deus, pude ver, pela Bíblia, que a justiça de Deus e a salvação dos homens se faz SOMENTE PELA FÉ no Cristo Salvador. Que grande amor de Deus para conosco, miseráveis seres humanos!! (Sola fide)

Finalmente compreendi e desejo que todos vocês também compreendam a verdade do EVANGELHO e as suas conseqüências para a vida do cristão. Jesus diz em João 8. 32: ‘e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’. Eu conheci esta verdade e por isso não desisti de levar adiante essa verdade para que vocês e tantas pessoas que ainda virão depois de vocês, conheçam a verdade que Liberta.

Em 1511, recebi a ordem de ir para Roma. Este era m antigo sonho meu. Só que ali me decepcionei completamente. Chamavam Roma de ‘Cidade Eterna’... ‘Se existe inferno, Roma foi construída sobre ele’ pois lá vi tanta roubalheira pois a Igreja Romana vendia indulgências. Estas eram cartas trocadas por dinheiro para que a pessoa que comprasse tal ‘passe’, tivesse lugar garantido no céu. Sempre achei que isso não era correto.

Também em Roma, vi prostitutas que faziam ‘promoções’ para os padres.

A igreja já não era mais Igreja, havia se transformado em um governo de homens sem interesse com o Evangelho. Ela estava cada vez mais se afastando da verdade escriturística de que Jesus é o salvador de todo homem que nele crer. E tudo isso debaixo do nariz do Papa, e ele não fazia nada.

Com a intenção de debater sobre o valor das Indulgências e o distanciamento cada vez maior da verdade de Deus, escrevi 95 teses ou pontos do ensino da Igreja Romana que estavam sendo distorcidos da palavra Bíblica e, no dia 31 de outubro de 1517, as prendi na porta da Igreja de Wittemberg. Elas logo foram traduzidas para várias línguas e logo chegaram aos ouvidos do papa Leão X.

Eu, Martinho Lutero, não sabia que aquelas afirmações teriam essa repercussão. Eu havia escrito apenas para que os professores e alunos da Universidade de Wittemberg lessem e pensassem nelas. Mas, eu tinha a certeza que tudo que escrevi estava correto, pois escrevi baseado na Escritura Sagrada. Também sabia que Deus está sempre do lado da verdade e que Deus estava agindo ali naquele momento através daquelas palavras. Deus queria e quer mostrar a verdade a todas as pessoas de todas as épocas, a mim e a vocês, pois ‘a verdade nos libertará’.

Jesus também diz: ‘se vocês permanecerem na minha palavra, vocês serão verdadeiramente meus discípulos’ (Jo. 8. 31) Mas, se a verdadeira Palavra de Deus não estava sendo proclamada e ensinada, como as pessoas iriam conhecer a verdade?

Para que existam verdadeiros cristãos e discípulos de Jesus, é preciso que haja a PALAVRA sendo ensinada de maneira clara! E SOMENTE A ESCRITURA SAGRADA É A PALAVRA DE DEUS DADA AOS HOMENS! Nada mais!

Nem a tradição da igreja, nem a palavra de homens, nem mesmo a palavra do Papa podem ter prioridade sobre a Palavra de Deus. Lembrem-se sempre das palavras do Cristo “Se vocês permanecerem na MINHA PALAVRA, vocês serão verdadeiramente meus discípulos”... (Sola Scriptura).

Somente permanecendo na PALAVRA DE DEUS (Jo. 8.32) ‘vocês conhecerão a Verdade e essa verdade vos Libertará’.

A Verdade é Cristo! Somente Cristo. O Verbo que se fez carne. Jesus não só é o anúncio do da Verdade do Evangelho Salvador, mas Ele mesmo É o EVANGELHO em pessoa, ele é a própria Verdade; ‘eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim’ (Jo 14.6).

Jesus veio ao mundo para libertar os seres humanos. E pagou um preço alto por isso, ‘não com ouro ou prata, mas com seu santo e precioso sangue e sua inocente paixão e morte’. E, SOMENTE PELA GRAÇA conquistada por Jesus por meio de sua morte em nosso favor, passamos da condição de escravos (do pecado) para a condição de libertos e Filhos de Deus. (Sola Gratia).

Desta forma somos agora verdadeiramente livres. Isso não quer dizer que temos agora o direito de fazer com nossas vidas o que bem entendemos. A nossa liberdade está totalmente compromissada com aquele que nos libertou – Cristo!

Jesus nos libertou da escravidão do pecado e da morte para sermos instrumentos úteis em seu Reino. Foi com este espírito e com esse objetivo que eu, Martinho Lutero, levei em frente o movimento da Reforma, para que outros pudessem ter acesso a esse mesmo Evangelho. Pois somente esse Evangelho da Justificação pela Fé, que é a verdade, pode trazer a liberdade para a vida de vocês e a vida da Igreja.

Deus nos mostrou a Liberdade em Cristo. E o movimento da Reforma nos libertou da opressão de um regime de lei e nos mostrou o único caminho por meio da ESCRITURA, para a salvação das almas atribuladas; Pela GRAÇA, mediante a FÉ em Cristo. Estamos livres da lei, pois Jesus, o Filho de Deus nos libertou e somos verdadeiramente Livres como Filhos amados do querido Pai.

Um Grande abraço. Dr. Martinho Lutero

PS: ‘Todos os seres humanos são como a erva do campo, e a grandeza deles é como a Flor da erva. A erva seca, e a flor cai, mas a Palavra do Senhor dura para sempre. Esta é a palavra que o Evangelho trouxe para Vocês” (1 Pe 1.25).

Publicado pela primeira vez na Revista Teologia;

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