sexta-feira, 14 de março de 2014

GIGANTE, SEM PISOTEAR

Sem Título1Um grupo sai à rua protestar contra o aumento da passagem de ônibus. Um rojão é lançado, uma pessoa atingida. Santiago Andrade, cinegrafista, esposo e pai, faleceu em 10 de fevereiro.

Outro grupo vai ao estádio assistir um clássico do futebol brasileiro. Uma falta é marcada. A cobrança é feita. A bola bate no travessão e quica dentro do gol. Há um árbitro auxiliar próximo à trave, mas ele não assinala o gol. O time prejudicado perde o jogo. Rodrigo Castanheira, o árbitro que falhou no lance e que chorou por ter errado, é obrigado a sair de casa com a mulher e os filhos devido a ameaças de morte.

Um menino faz xixi na cama. O pai o coloca de castigo, sem roupas, no meio da rua, por mais de três horas, debaixo de um sol de 40°C.

Há algum tempo se celebrava, enfim, o “poder de reação” do povo brasileiro com “o gigante acordou”. Assim?

O que era para buscar benefícios tira vidas.

O que era para alegrar incita violência.

O que era motivo para conversa e disciplina torna-se pretexto para desumanidade.

“Está na hora de rever conceitos” – e isso não é apenas teaser de comercial de TV. Nós – sociedade em geral – perdemos a razão nas reivindicações, os princípios da luta digna, o bom senso para resolver conflitos, a arte de dialogar corretamente, a finalidade da disciplina.

O problema é – alegam alguns – que precisamos gritar porque quem deveria ouvir está surdo. Governantes, polícia, poder judiciário... Ou tudo é muito lento, ou há falta de vontade, ou há esforços concentrados na direção errada, ou há outros interesses na jogada, ou há coisas entre o céu e a terra que não sabemos. Sim, concordo.

Mas na ânsia de gritarmos podemos deixar outros surdos? Para chegar ao destino podemos atropelar? Temos esse direito? O que nós queremos realmente: melhorias ou vingança, condições para servir melhor ou um jeitinho de conseguir poder, ensinar e corrigir para o futuro ou punir para satisfazer a raiva?

Ou, simplificando: e se nós fôssemos os filhos de Rodrigo Castanheira? E se você, prezada leitora, fosse a esposa de Santiago Andrade? Ou ainda: você gostaria que seu patrão o colocasse de castigo em um pau de arara?

Então, de um lado, corra atrás. Reivindique, fale, divulgue. Peça uma conversa com o vereador, com o prefeito, com o patrão. Organize um clamor que possa ser ouvido. Vá à instituição e formalize uma denúncia, uma sugestão, um pedido. Dá para fazer isso sem depredar, quebrar, agredir ou matar.

Mas não se esqueça do outro lado, o pessoal. Ame aquelas pessoas que erraram contra você. Ore por elas – aliás, parece que esquecemos que Deus pode atender a nossa oração por nossos inimigos, e mudar para melhor as coisas! Esqueça a ideia do revide, da vingança, da tentativa de “educar” pelo exagero.

Ou seja, a coisa começa com cada um, dentro de cada um. Começa com Jesus, a paz que desarma o nosso coração, que derruba o muro da inimizade que tínhamos com Deus, que nos faz olhar para o lado com anseio de justiça e disposição para perdoar.

Temos de lutar. Mas temos de saber lutar. O gigante precisa ficar acordado e progredir, mas não precisa pisotear os anões.

P. Julio Jandt

Igreja Evangélica Reformada de Itararé

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