domingo, 12 de outubro de 2014

“A Festa de Babette - No Banquete com o Pai…”

babette (1)Salmo 23.5; “Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda”.

Isaías 25.6; “O SENHOR dos Exércitos dará neste monte a todos os povos um banquete de coisas gordurosas, uma festa com vinhos velhos, pratos gordurosos com tutanos e vinhos velhos bem clarificados”.

 

“A Festa de Babette”, acontece no início do sáculo XX numa pobre aldeia de pescadores no litoral da Dinamarca. Um local de ruas cheias de lama e com cabanas cobertas de palha. Ali, um velho pastor, já com barbas brancas, liderava um grupo de crentes de uma severa e assim chamada no filme “seita luterana”. (Na Dinamarca, 88% da população é Cristã, dos quais 87%, são Luteranos) Todos os domingos, o grupo se reunia e cantava hinos do tipo; “Estamos no mundo, mas dele não somos, aqui nós vivemos distantes do lar…”.

O velho pastor viúvo, tinha duas filhas adolescentes; Martine, chamada assim por causa de Martinho Lutero, e Philippa, por causa do discípulo de Lutero, Philip Melanchton.

Depois do falecimento do pai, as duas irmãs, agora solteironas de meia-idade, tentavam continuar com a missão, mas, sem a liderança do velho pai, a igrejinha foi se acabando; Um irmão tinha queixas de outro por causa de algum negócio mal feito... Haviam boatos de que havia um caso de traição conjugal envolvendo pessoas da comunidade... Duas senhoras ‘muito queridas’ já não se falavam há anos...

Aconteceu que, numa noite chuvosa, bate à porta das irmãs Martine e Philippa, uma mulher estrangeira em busca de refúgio. A mulher entregou a elas uma carta onde estava escrito que seu nome era Babette, e que ela havia perdido o marido e filho durante a guerra civil da França. Com a vida em perigo, tivera de fugir, e alguém lhe arranjara uma passagem em um navio com esperança de que a pequena aldeia lhe demonstrasse compaixão. No rodapé da carta estava escrito; “PS: Babette sabe cozinhar”.

Durante os doze anos seguintes Babette trabalhou para as irmãs em troca de abrigo e comida. Um dia Babette recebeu uma carta onde um amigo lhe dizia que, durante todos estes anos, ele renovava o número de Babette na loteria francesa, e que, naquele ano, o bilhete de Babette fora premiado, e ela ganhara 10.000,00 francos. Uma pequena fortuna na época (Aprox. R$700.000,00).

Justamente naqueles dias as irmãs estavam pensando em preparar uma celebração em homenagem ao centenário do nascimento de seu pai. Por isso, Babette lhes fez um pedido; “Gostaria de preparar uma refeição para o culto de aniversário. Quero cozinhar a melhor refeição francesa para todos”.

Martine e Philippa, num primeiro momento, temendo ferir alguma lei divina ao aceitar um jantar francês, demonstram receio e insegurança. Elas tiveram que explicar a embaraçosa situação aos poucos membros da igrejinha que, por fim, concordaram.

Nevava no dia 15 de dezembro, o dia do jantar, o que deixava a paisagem com um charme todo especial. As irmãs ficaram satisfeitíssimas ao saber que um hóspede inesperado aparecera naquela noite e o convidaram a se juntar a elas no jantar. Era um oficial de cavalaria dinamarquesa que agora era general no palácio do rei.

babetteBabette havia conseguido louças e cristais, e havia enfeitado o recinto com velas e todos os ornamentos possíveis. A mesa estava linda. Quando o banquete começou todos os pobres habitantes da aldeia ficaram mudos, como quem vê algo nunca antes sonhado… algo totalmente novo e delicioso... Um Banquete repleto das melhores comidas e dos melhores vinhos e champagnes que aqueles humildes pescadores jamais haviam provado. Apenas o general elogiou a comida e a bebida; “É o mais fino Banquete que já provei” ele disse.

Embora ninguém mais falasse a respeito da comida ou da bebida, gradualmente o banquete operou um efeito mágico sobre os habitantes da aldeia. O sangue esquentou. As línguas se soltaram e eles começaram a lembrar dos velhos tempos quando o pastor ainda estava vivo…

Aquele Banquete era especial demais... Até o irmão que havia enganado o outro nos negócios ali, naquele momento, finalmente confessou e foi perdoado... A história de traição foi finalmente esclarecia e todos se desculparam... As duas mulheres que tinham uma rixa de dez anos voltaram a conversar como se nada tivesse acontecido entre elas... Até mesmo quando uma mulher, sem querer, arrotou, o irmão ao seu lado disse, bem-humorado; “Aleluia!”, coisa que nunca acontecera antes...

O fino general, por sua vez, não conseguia falar de nada além de elogiar a comida. Quando o ajudante da cozinha trouxe o “coup de grâce” e codornizes preparadas num finíssimo molho, o general exclamou que havia visto tal prato apenas em um lugar na Europa, no famoso Café Anglais em Paris. E comentou; “O Café Anglais já foi célebre por ter uma mulher como chefe-de-cozinha”.

Feliz, cheio de vinho, o apetite satisfeito, incapaz de se conter, o general levantou-se para fazer um discurso. Ele disse; “A misericórdia e a verdade, meus amigos, se encontraram aqui…”. Então o general fez uma pausa, pois ele tinha o hábito de fazer os seus discursos com cuidado, consciente do seu propósito, mas aqui, no meio da pequena e ortodoxa congregação do velho pastor, foi como se toda a figura do General, com seu peito coberto de condecorações, fosse porta-voz de uma mensagem que precisava ser transmitida àquele povo; “Todos nós fomos informados de que a graça deve ser buscada no céu. Mas em nossa loucura humana e nossa visão reduzida imaginamos que a graça divina seja finita e limitada ao futuro... Que está lá longe… Porém, chega o momento em que nossos olhos são abertos, nosso coração é aquecido… Só aí vemos e entendemos que a graça é infinita e ilimitada... Ela já está aqui, pois o reino de Deus está entre vocês…”. Finalizando, o general acrescentou; “A graça, meus amigos, não exige nada de nós a não ser que a aguardemos com confiança e a reconheçamos com gratidão…”

No discurso do general, a autora da trama, Isak Dinesen, não deixa dúvidas de que escreveu “A Festa de Babette” não apenas como uma história a respeito de uma excelente refeição, mas como uma Parábola da graça de Deus - Como a parábola do Banquete de Jesus; um presente que custa tudo para o doador e não custa nada para quem o recebe…

Assim, como algo mágico e maravilhoso, aquelas pessoas puderam sentir ‘uma pitadinha do céu’ da forma como o reino de Deus foi contado pelo Poeta no salmo 23, por Isaías e pelo próprio Cristo; Como um Grande Banquete com as melhores delícias cujo valor ignoramos…

O Filme “A Festa de Babette” termina com duas cenas;

- Numa delas, lá fora, os pobres e velhos pescadores dão as mãos ao redor da fonte de água e cantam entusiasmados os velhos hinos de seus hinários luteranos. É uma cena de absoluta comunhão… A Graça de Deus entrou naqueles corações... Eles sentiram como se realmente tivessem os seus pecados lavados e tornados brancos como a lã, e nessas vestes inocentes, as vestes do cordeiro que agora vestiam, faziam brincadeiras como cordeirinhos travessos pelos campos verdejantes e águas tranquilas descritas no Salmo 23. Tudo isso firmava neles a certeza de que; “Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do SENHOR para todo o sempre” (Sl 23.6).

- A ultima cena do filme acontece lá dentro, na bagunça de uma cozinha cheia até o teto de louças para lavar, panelas engorduradas, conchas, ossos cartilaginosos, engradados quebrados, cascas de vegetais e garrafas vazias… Babette senta-se no meio da bagunça, parecendo tão desgastada quanto na noite em que chegara à aldeia, doze anos antes.

“- Foi um jantar e tanto!” – diz Martine.

Babette parece distante. Depois de um minuto ela responde;

“- Eu era a cozinheira que tornou famoso o Café Anglais do qual o general falou”.

“- Todos nós lembraremos desta noite depois que você tiver voltado para Paris!” - Martine acrescenta, como se não a tivesse ouvido.

Babette então lhes diz que não vai voltar para Paris… Praticamente todos os seus amigos e parentes ali foram mortos ou feitos prisioneiros. E, naturalmente, seria muito cara uma viagem de volta para Paris.

“- Mas e os dez mil francos?” - as irmãs perguntam.

Então Babette revela; Havia gasto tudo, cada centavo de franco que ganhara, na comida que haviam acabado de devorar.

“- Não se assustem…” - ela diz - É isso que custa um jantar adequado no Café Anglais”.

Doze anos antes daquela Festa, Babette aparecera entre aquelas pessoas que conheciam a graça apenas na teoria. Eram discípulas de Lutero, que ouviam sermões a respeito da infinita graça de Deus em Jesus Cristo quase todos os domingos, mas que, no restante da semana, tentavam obter o favor de Deus com a sua própria piedade e esforço… Mas a graça de Deus veio a elas na forma de um Banquete – “A festa de Babette”. Ela gastou tudo o que tinha de uma vida inteira a fim de proporcionar alegria àqueles que nem a haviam merecido, que mal possuíam a capacidade de recebê-la ou reconhecer o valor. Pobres, desdentados e maltrapilhos das beiras das estradas.

No entanto, para Deus essas pessoas são dignas, pois aceitaram o convite e, como escreve João; “… Estas são as pessoas que lavaram as suas roupas no sangue do Cordeiro, e elas ficaram brancas. …” (Ap 7.14).

A graça de Deus foi demonstrada e veio àquelas pessoas da pequena aldeia dinamarquesa como sempre vem e virá para a Eternidade; Livre de pagamento, sem cordas amarradas… O mais fino prato (de um famoso restaurante francês) como ‘Cortesia da casa’. Essa graça é para você também. Deus te convida; “Vinde, pois tudo está preparado!”. Assim, sem merecimento próprio, nós já fazemos parte do divino Banquete... Se não estivermos ocupados demais...

(Adapt. “A Festa de Babette” em; Maravilhosa graça de Philiph Yancey)

festa de babette(O filme “A festa de Babette”, de 1987, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1988)

 

 

 

 

 

 

Assista o filme;

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